Piscina Exterior

- Este olhar? Não estou a fazer olhar nenhum. É a verdade. Já vi rapazes melhores do que tu - Respondi, tentando manter o meu tom de voz firme e credível.

- E piores, também - respondi, também com um tom de voz credível e bem real. - Então, vais continuar a prender-me aqui ou posso ir embora? - perguntei, desculpando-me e dando mais uma olhadela ao decote do seu fato-de-banho.

- Bem, sim, claro... - Respondi, já que não era todos os dias que havia rapazes como Ralph por perto - Ninguém te está a prender. Se ainda estás aqui é porque não te queres ir embora - respondi num tom de voz convencido.

Suspirei e soltei uma gargalhada cínica - Pfff, tu deves estar com as tuas bruxarias a não deixar-me ir embora. Não é, feiticeira? - gozei. - E agora, o que estarão os espiritos lindos a dizer? - perguntei, alterando o tom da minha voz.

Como já seria de esperar ela já estava gozar. Felizmente não parecia ter minimamente acreditado - Acredita, se eu fosse feiticeira já te tinha tornado num sapo - Ri-me e virei costas - Neste momento estão a dizer-me que não paraste de olhar para mim um segundo que fosse - Ri-me baixinho, para que ele não percebesse e fui-me sentar novamente no meu posto de vigilância. Precisava de álccol, urgentemente. Tirei a garrafinha que tinha guardada e dei um golo na vodka rápido, para não atrair atenções.

Ri-me mais uma vez e entrei de novo no espaço da piscina - Deves ter dificuldade em percebê-los, porque acho que é mais ao contrário. - provoquei, mexendo as sobrancelhas. Mais tarde ou mais cedo teria de ir embora, mas tinha de arranjar argumentos que me prendessem ali por mais um bocadinho.

Revirei os olhos e ignorei as suas palavras - Ao menos podias tê-lo disfarçado um bocadinho... - Sorri, mordendo o lábio inferior ao mesmo tempo que olhava para ele - E se tivesse olhado? É o meu trabalho, vigiar, sabes? - Ri-me.

Dei uma volta pela piscina e toquei com o dedo grande do pé na água, voltando a calçar-me - Só se fores uma puta ou uma daquelas mulherzinhas que arranja gajos bons para modelos. - argumentei, encostando-me e cruzando os braços num ar de "e agora, sam?"

- Não sou uma, nem outra. Credo, tenho mais que fazer... - Ri-me e prendi o canelo num rabo de cavalo, de modo a não tapar nem um milímetro da minha pele.

Ri-me irónicamente, perdendo as gargalhadas à medida que apreciava o seu pescoço, agora à vista - Como olhar para um rapaz sensual como eu? - exemplifiquei e dei um sorriso graxista.

Não era o tipo de rapariga que caia facilmente naquelas provocações - Não. Só mesmo se fosses mesmo muito, muito bom é que eu perdia o meu tempo contigo. Podia perder horas... - Provoquei, apesar de ele ser mesmo, mesmo bom. Mas nunca iria admiti-lo.

Olhei para o relógio acima da porta de emergência e apontei para ele - Já se passou algum tempo que esse teu olhar está a imaginar-me nu - sugeri piscando o olho.

Sorri, pelas palavras dele. Ao menos era directo - E vais-me dizer que não retribuíste o olhar? - Provoquei de volta, mordendo novamente o lábio inferior.

Olhei nada discretamente para as suas ancas e fiz um sorriso perverso - Não se chama a isso natureza masculina, ou algo do género? - desculpei-me e pisquei o olho.

Sorri maliciosamente. A sua resposta fora boa - Mas que eu saiba a natureza masculina não te faz olhares ara mim como que se me quisesses comer. Isso já és tu que o decides...

Soltei uma gargalhada cínica e cruzei os braços - Peço imensa desculpa, mas não sou desses. Já ouviste falar que cão que ladra não morde? - disse num tom baixo. Na realidade, o meu género nem era olhar, ou como o provérbio diria, ladrar. O meu género era simplesmente ficar quieto no meu canto, antes que alguém me reconhecesse das notícias ou algo parecido.

Confesso que fiquei um pouco aborrecida. Queria "acção", o quanto antes. Não era todos os dias que apareciam hóspedes, ou mesmo empregados, como Ralph no hotel. - Bem me parecias que eras desses... Confessa lá, és gay? - Provoquei, com os olhos semi-cerrados.

Soltei uma gargalhada falsa. Aquilo definitivamente não tinha graça nenhuma. Principalmente para um gajo que tinha levado no cú durante anos por um pedófilo - Não, descansa. Porquê, também tens aquela teoria das adolescentes que dizem que todos os gajos giros são gays?

Abanei a cabeça, com um sorriso travesso nos lábios - Não. A minha teoria consta apenas em que, qualquer gajo que não se atira para cima de mim, é gay - Respondi, em completo tom de gozo.

Revirei os olhos, com uma atitude descontraída - Ainda tens uma auto-estima maior que a minha - o que não é díficil acrescentei mentalmente. Mas de verdade, para a maioria das vezes a teoria dela provavelmente estaria correcta. Quem é que aguentava ver um corpo assim e não se montar nele?

- Não, simplesmente é o que tenho vindo a constatar ao longo dos tempos. - Respondi, num tom tranquilo. Dei uma vista de olhos no relógio da piscina. O meu turno terminara e nem dera por isso - Agora tenho de ir, e acho que tu também estás atrasado para a cozinha, não? - perguntei, evitando gargalhar.

Fiz um 'olhar matador' e sorri - Hum, sim. Parece que sim. - respondi - Então vemo-nos por aí. - e, sem dizer mais nada, virei-me de costas e voltei para a cozinha. Sabia se ficasse ali mais um segundo ela acabaria por me vencer. Língua Ponteaguda.

- Sim, vemo-nos por aí... - VI-o ir-se embora, e não pude deixar de reparar melhor no seu traseiro. Ralph era, definitivamente, alguma coisa de interessante e se dependesse de mim não me ia ficar apenas pelo "olhar", tal como fazia com todos os rapazes que gostasse. Fui até ao posto buscar as minhas coisas e depois segui para o meu quarto.

Devo ter dormido no máximo duas horas visto que quando acordei ainda se encontrava de noite. Não tinha sono, aliás, tinha sido uma sorte ter conseguido adormecer. A minha cabeça estava uma verdadeira confusão. Eu estava prestes a matá-lo, eu juro que estava. Era só mais um bocadinho mais de força e ele tinha morrido. Mas onde é que eu tinha errado? Fitei o tecto e passei as mãos pelo cabelo, levantando-me. Precisava de me distrair, urgentemente. Sentei-me na pontinha da cama enquanto pensava no que haveria de ir fazer e lá me levantei indo em direcção ao armário para vestir alguma coisa. Escolhi um simples vestido e vesti o meu biquini por baixo do mesmo. Sim, ia para a piscina. Adorava nadar sobre a luz lunar, era de uma beleza estonteante. Calcei os meus chinelos e saí do quarto, constatando de que já não estava ninguém, já deviam ter ido embora. Soltei um leve suspiro e subi até à piscina. Estava vazia, como já seria de esperar. Sorri levemente e despi-me, mergulhando de forma graciosa na água.

Olhei para baixo novamente, aqui foi onde a vi pela primeira vez, ela apenas saltou para a água e eu não consegui evitar olha-la. Abri muito os olhos quando a vi novamente a mergulhar. Olhei para as horas, já devia estar toda a gente a dormir, mas tal como eu, ela não conseguia. Fechei os olhos e senti de novo Marvin ao meu lado.
-Comé puto? - Bateu-me nas costas fazendo-me desequilibrar.
-Hei! - Resmunguei agarrando-me melhor ao muro.
-Salta, já estou farto dessas tuas merdas - disse ele apontando para o chão. - Salta.
-Não! Não me apetece passar pela morte outra vez hoje. - ele com um suspiro meio irritado desapareceu. Voltei a ouvir as vozes, muitas, cada vez mais. Agarrei-me à cabeça como sempre fazia e quando elas pararam eu olhei em volta vendo que não havia ninguém. Engoli em seco olhando-a ainda na piscina e abanei as pernas. Eu podia atirar-me, não tinha nada a perder. A minha respiração começou a ficar ofegante só com o pensamento, vi-a a olhar para cima e não sabia se ela me tinha visto ou não, mas eu... Larguei as mãos do muro e apenas me deixei escorregar. Oh meu deus, tu estás mesmo louco Reece! O que vale é que vais acabar contigo agora senão não sei o que seria de ti. Senti o meu corpo embater no chão e os meus olhos fecharam, mas por alguma razão... não estava morto.
-Só se morre uma vez. - sussurram ao meu ouvido.