Quarto de Reece Grant

Passei as costas da mão pela cara quando tudo o que era seu estava destruido e deixei-me ficar parada, a olhar para a sua cama durante uns minutos. Fora ali, naquele sítio, que eu dormira agarrada a ele. E de repente, ela arranjou-se sozinha. Arregalei os olhos e olhei para as minhas mãos. Não, eu não era. E de um momento para o outro tudo se voltou a juntar. Os vidros partidos, os quadros caídos no chão, tudo. Arregalei os olhos e quando caí em mim, era Reece que estava a fazer tudo aquilo.
- Tu....- apontei-lhe um dedo e voltei a olhar para o quarto.- tu és um fantasma.- abanei a cabeça e engoli em seco.- não não podias, tu disseste que gostavas de mim.- respondi quando as suas palavras ecoaram na minha mente. Eu devia estar a matá-lo, o que é que se passava?

Encolhi-me quando ela disse que eu era um fantasma.
-Não - olhei para as minhas mãos, mas quem é que eu queria enganar, eu sabia que se passava alguma coisa de muito estranho na minha vida, todos aqueles que andaram à minha volta estes últimos anos diziam-me o que eu era, mas eu continuava a enganar-me com uma doença qualquer. - Eu não sabia - desculpei-me, mas sabia que ela não ia acreditar. Quem é que não sabe que é um fantasma? - E eu gosto de ti - apertei os punhos - eu sempre gostei.

Revirei os olhos com a sua resposta e passei as mãos pelos meus cabelos loiros.
-Como é que não sabias? Aliás, como é que não se sabe que se é um fantasma?- ri-me cinicamente. Baixei o olhar para ganhar forças e depois olhei-o fixamente.- foi por isso? Foi por gostares de mim que nunca me mataste como fizeste à minha irmã?

-Eu não sabia! - disse virando-me de costas para ela e aproximando-me de uma das janelas com a cabeça a latejar por causa de tanta informação ao mesmo tempo. Suspirei quando ela voltou com a história da irmã - eu nem sei quem é a tua irmã - disse já cansado.

- O quê? Não sabias que estavas morto? - ergui uma sobrancelha e sentei-me na cama, apoiando os braços nas minhas pernas e a cara nas minhas mãos.- então como é que me conheces a mim? - suspirei.- isto é tudo tão estranho.- disse baixinho.

-Não - revirei os olhos cerrando o maxilar. Apoiei os cotovelos na janela e olhei para fora do hotel. - Eu via-te, tu apareceste no hotel e eu via-te, qual é a confusão disso?

Passei as mãos pelo cabelo, puxando-o ligeiramente e suspirei.
- A confusão é que era suposto seres apenas tu a gostar de mim, nada mais do que isso.- mordi a parte de dentro da bochecha e fechei os olhos.

-Porque é que sou eu é que tenho que sofrer? - perguntei virando-me para ela ligeiramente irritado. Era demasiados sentimentos, demasiados. Passei a mão pela cabeça e voltei para a casa de banho.

Levantei o olhar para ele com a sua pergunta e quando ia para falar, ele voltou para a casa de banho. Levantei-me e entrei de rompante na mesma, agarrando a sua face com as minhas mãos.
- Não és só tu que sofres, será que não percebes? - olhei os seus olhos azuis, sentindo-os enfeitiçarem-me. E é aí, que o feitiço se vira contra o feiticeiro.- eu gosto de ti, eu também gosto de ti.

Encostei-me mais às mãos dela e aproximei-me abraçando-me a ela.
-Eu não sei como morri - disse apertando a camisola dela - não me lembro de nada e pensava que ouvia vozes.

Encostei a minha cabeça no seu ombro e beijei o seu pescoço devagarinho, sorrindo sem que ele visse.
- Não penses nisso agora.- engoli em seco, puxando-o para mim.- se quiseres, eu posso descobrir, mas só se quiseres.- sussurrei.- mas eu juro, eu juro que não tive nada a ver com isso, eu nem sabia que eras um fantasma.- fechei os olhos.

Neguei com a cabeça muitas vezes.
-Não, tu não vais fazer nada, é um assunto meu - disse afastando-me ligeiramente e vendo toda a gente atrás de mim, depois de terem aberto a porta a cuscar. - Saiam daqui - disse gritando para eles e levando as mãos em desespero à cara. Abanei a cabeça e saí para o quarto vendo que tinham desaparecido. - Eu sei que não tens nada à ver.