Quarto de Reece Grant

Com um suspiro puxei-a até ao meu quarto e despi o meu casaco colocando-o em cima da cadeira. Liguei a televisão e vi Marvin em cima da bicicleta a "fazer exercício". Revirei os olhos e virei-me para ela.
-Queres alguma coisa? - perguntei referindo-me a bebidas.

Quando entrei no seu quarto, parei à sua frente e olhei-o com atenção depois de ouvir o seu suspiro.
- Eu posso ir embora.- murmurei.- não precisavas de me ter trazido para aqui só porque te pedi.- mordi o lábio e olhei para a bicicleta que ele tinha no quarto, arregalando os olhos ao ver os pedais mexerem-se sozinhos. Wtf?- ahm, Reece? - apontei com o queixo para lá, realmente assustada.

-Eu trouxe-te para aqui - encolhi os ombros - não faz mal. Só te acho estranha - disse desconfiado, eu nunca ia conseguir parar de ser desconfiado, por mais que tentasse. Olhei para ela quando me chamou enquanto olhava para a bicicleta. - É o vento - disse completamente confuso e fui fechar uma das janelas que tinha aberta lançando um olhar a Marvin. Isto é tão estranho.

Ergui uma sobrancelha, apesar de eu saber que era normal ele achar-me estranha, depois de tudo o que fiz e depois desta minha mudança repentina.
- Pois...- murmurei com um suspiro. Assenti e sentei-me na pontinha da sua cama, esfregando um braço. Não desviei o meu olhar da bicicleta. Não estava assim tanto vento, ou pelo menos não o suficiente para conseguir mover os pedais.

Marvin revirou os olhos e foi ter com ela dizendo-lhe adeus com a mão e gozando ao máximo.
-Ela não é assim tão boa bruxa, se fosse acho que me conseguia apanhar na boa! - disse tocando-lhe no cabelo. Suspirei pesadamente e fui-me sentar em cima dele fazendo-o desaparecer.
- Estás bem? - perguntei olhando-o atentamente.

Estremeci quando senti novamente uma espécie de corrente de ar e encolhi-me, esfregando um braço. Olhei a janela e ergui uma sobrancelha. Ela estava fechada, porque é que eu continuava a sentir frio? Dei um pequeno salto quando ouvi a voz de Reece e olhei-o, assentindo.
- S-sim, estou.- murmurei.

Mordi o lábio sem saber no que acreditar, desde que a conheci tudo o que Marvin fazia ou deixava de fazer parecia cada vez mais real, Marvin e não só... Passei a mão pela cana do nariz e suspirei tentando controlar-me. Olhei para Cleo e passei-lhe as mãos pelas costas.
-Está tudo bem, aposto que se fosse alguma coisa tu conhecias mata-la. - disse-lhe tentando descansa-la - podes deitar-te se quiseres.

Estremeci quando senti as suas mãos na minhas costas e encolhi-me ligeiramente.
- Eu acho...acho....acho que vou embora.- esfreguei a mão no meu braço arrepiado.- o teu quarto é estranho.- murmurei assustada. Por vezes parecia que tinha ataques de pânico do nada.

Tirei as minhas mãos de perto dela, aliás, afastei-me cruzando os braços e ficando a olha-la.
-Está bem - disse olhando em volta quando ela disse que o meu quarto era estranho - É normal - pressionei os meus lábios.

Mordi o lábio e passei as mãos trémulas pela minha face. Ia levantar-me para ir embora quando uma enorme rajada de vento passou por mim, fazendo-me soltar um grito. Arregalei os olhos e agarrei-me a Reece, subindo para o seu colo.
- Não não não não.- murmurei abanando a cabeça várias vezes.- pára com isto.- disse a tremer.

Assustei-me com o grito dela e assim que a vi correr para mim agarrei-a e coloquei as mãos nas suas costas como se ela fosse um bebé.
-Não se passa nada Cleo tem calma - pedi indo em direcção à minha cama e sentando-me na mesma com ela ao meu colo.

Agarrei-me a ele e encolhi-me no seu colo, apertando a sua camisola nas minhas mãos. O vento continuava a soprar pelo meu corpo, fazendo-me tremer de frio.
- Não, não! - gritei, encolhendo-me ainda mais.- pára com isto, por favor.- pedi em pânico, puxando a sua camisola.

Apertei-a contra mim com força e passei a mão pelo seu cabelo beijando-lhe a testa.
-Está tudo bem, ninguém te vai fazer mal - disse olhando para a frente e tentando ver quem fazia aquele vento. Vi Natalie a sorrir para mim e engoli em seco.
-Pára, sai - disse com dentes cerrados.
-Porquê? Ela vai matar-te, está-lhe no sangue, é só perceber que tu és um fantasma. - disse indignada.
-Sai - repeti e ela saiu fazendo a porta bater com um estrondo.

Estava frio, estava muito frio. O meu corpo tremia descontroladamente. Os meus dentes batiam uns contra os outros e acho que as lágrimas só não correram porque até isso já estava congelado. Cheguei-me o mais que consegui para ele e tentei controlar a minha respiração ofegante. De repente, tudo parou. Inspirei, como se acordasse de um pesado, e fechei os meus olhos com força, sentindo agora as lágrimas a correr.

Olhei para ela percebendo que tinha voltado ao normal, apesar do choro e beijei-lhe a testa fechando os olhos.
-Estás bem agora? - perguntei olhando-a e limpando-lhe as lágrimas.

Continuei de olhos fechados quando senti os seus lábios na minha testa e fiquei muito quieta e agarrada a ele. Respirei fundo e funguei assentindo à sua pergunta.
- Não me deixes sozinha.- pedi baixinho.

-Eu não deixo - passei as mãos pelos seus braços e deitei-a na minha cama pegando no comando e baixando as cortinas de algumas janelas. Deitei-me com ela puxando-a para mim e fiquei a afagar-lhe as costas.

Assenti e agarrei-me aos lençóis quando ele se afastou. Encolhi-me e fechei os olhos, respirando fundo. Eu não sabia o que se passava comigo. Cheguei-me rapidamente para ele quando se deitou junto de mim e aconcheguei a minha cabeça no seu peito, sentindo-me acalmar aos poucos.

Fiquei a dar festinhas na sua cabeça até sentir a sua respiração mais calma.
-Podes dizer-me o que se passa? - perguntei olhando-a. Fechei os olhos recostando a minha cabeça à almofada.

Fechei os olhos ao sentir as suas mãos e cheguei-me para ele o mais que consegui.
- Eu não sei.- murmurei.- eu sinto frio, muito frio.- escondi a minha cara no seu peito.- como se alguém estivesse a tentar fazer-me mal, mas eu não vejo nada.- engoli em seco.- eu não sei.

Suspirei com o que ela disse e coloquei o seu cabelo para trás olhando-a por segundos.
-Esse alguém posso ser eu? - perguntei fazendo com que ela me olhasse.

Olhei-o também e abanei a cabeça várias vezes, chegando-me para ele.
- Não, não és tu.- neguei.- tu afastaste o frio.- murmurei contra o seu peito.- tu fizeste bem.

Baixei o olhar passando a mão pelo seu braço e fiz uma careta estranha. A minha cabeça ia explodir, ia mesmo.
-Isso é bom - disse baixinho. - acho.

Agarrei a sua mão que passava no meu braço e assenti, entrelaçando os nossos dedos.
- É bom sim, muito bom.- sussurrei e puxei-o para mim, aconchegando a cabeça no seu peito e fechando os olhos.