Jardim

Os meus olhos abriram-se devagar. Estava deitada, parecia que estava...fechada numa casa? Arregalei os olhos e com alguma dificuldade olhei em volta vendo que estava na casa de madeira onde desde pequena brincava com a minha irmã. Era a casa de madeira que havia no jardim.
- Hum...- murmurei, apalpando algo.

Depois de a ter deitado na cama com a ajuda de Marvin fui para a outra que estava encostada à parede e fui lá para o canto olhando de vez enquanto para ela.
-És mesmo burro pa - resmungou Marvin.
-Estás a irritar-me - disse-lhe entredentes. Marvin sentou.se à minha frente.
-Vê se percebes meu ganda burro. Ela é uma bruxa, quer matar-te, aliás, elas adoram torturar fantasmas.
-Eu. não. sou. nada. disso. - disse muito pausadamente. Olhei-a quando emitiu um som e percebi que estava a acordar. Marvin desapareceu com medo e eu agarrei-me a uma almofada velha e rota.

A minha cabeça estava a doer tanto, mas desta vez eu não estava a ter premonição nenhuma. Ergui o tronco e olhei para todos os lados, vendo Reece deitado numa cama ao lado da onde eu estava. Deixei-me ficar a olhá-lo. Eu só o tinha salvo porque queria ser eu a matá-lo, eu e mais ninguém, nem mesmo a natureza.
- Porque é que estamos aqui?

Virei a cara para ela quando me falou e eu apenas encolhi os ombros.
-Não fales de mim.
-Vou violar-te - disse num tom sério apesar de estar a gozar. Marvin riu-se nos meus ouvidos e eu não consegui evitar esboçar um sorriso.

Arregalei os olhos e levantei-me mal ouvi o que ele disse. Ainda estava fraca e por isso cambaleei um pouco até me conseguir equilibrar.
- Não, tu não me vais fazer nada.- murmurei abanado a cabeça enquanto via tudo rodar à minha volta. Coloquei as minhas mãos em posição, para fazer algum feitiço que me defendesse, mas nada saiu, nem uma pequena faísca.- pronto, viola.- suspirei deixando-me cair na cama dele, sentada na pontinha.

Quando a vi levantar-se suspirei porque percebi que tinha dito aquilo serio demais, eu não fazia mal a um rato quanto mais a uma rapariga que eu gostava, mas que por acaso me queria matar. Não tive medo dela quando começou a tentar fazer uma das suas magias porque ela estava fraca, não ia sair nada dali. E como eu tinha razão vi-a cair na cama à minha frente. Olhei para ela ainda agarrado à almofada e encolhido ao canto. - Estava a brincar.

Spoiler:

Suspirei pesadamente e passei as mãos pela cara, num gesto frustrado. Mas porque é que eu não o matei logo? Era só o feitiço certo e pronto, ele estaria morto no meio do chão. E para melhorar, os meus poderes parecia que se tinham dissipado.
- Mata-me a mim também.- murmurei num tom frio.- eu não quero viver mais.- abanei a cabeça.

Fiquei a olha-la sem perceber o que ela tinha. Eu não matei ninguém, tenho certezas.
-Eu não mato nem matei ninguém - repeti pela milésima primeira vez olhando para ela e depois para a almofada. - Podes ir embora e tentas matar-me outro dia.

Direccionei a minha mão aberta para a almofada que estava em cima da minha cama e fechei os olhos enquanto me concentrava ao máximo que conseguia. Soltei um esgar e finalmente consegui por a almofada a levitar. Cerrei o maxilar quando o ouvi e a minha mão fechou-se, ouvindo-se o rebentar do tecido da almofada.- não gosto de matar sem uma boa luta, apesar de que...- abanei a cabeça.- esquece, eu não mato quando as pessoas estão à espera.- agora, o monstro parecia eu.

Fiz uma careta desviando o olhar dela e remexendo os pés.
-Eu não bato em mulheres. - disse eu.
-Ela é uma bruxo estúpido.
-Mata-a enquanto podes
-Ela vai torturar-te até desejares ir para o outro lado...
-...mas não vais conseguir. - agarrei-me à cabeça confuso com aquelas vozes todas e deixei que da minha garganta saísse um grito causado pela dor que sentia.

Olhei para um ponto morto da casa e encolhi os ombros.
- Mesmo que me quisesses bater não conseguias.- murmurei e continuei a olhar para o nada. Arregalei os olhos quando o ouvi gritar e virei-me repentinamente para ele, vendo-o agarrado à cabeça.
- Não fui eu....- suspirei.- eu juro.- arregalei os olhos. Aproximei-me dele e coloquei-me de joelhos em cima da cama.- o que se passa? - toquei-lhe no ombro. Eu já disse que ninguém o mata sem ser eu.

Deixei uma mão na cabeça e abanei a mesma negando a sua preocupação.
-Não é nada. - deixei a almofada e levantei-me esfregando o couro cabeludo. Ahh, a minha cabeça parecia que estava a estalar por dentro com tantos gritos a falarem para mim e a pedirem para ter cuidado, - E para que fique claro, não vai haver luta da minha parte. - saí meio cambaleando do quarto.

Afastei-me, deixando que ele se levantasse e revirei os olhos com o que ele disse.
- Se não fosse nada, não estavas assim.- resmunguei e senti o sangue fervilhar ao vê-lo sair do quarto.- tudo bem, é da forma que te mato mais facilmente! - gritei-lhe ainda no quarto e saí do mesmo, toda irritada. Mas porque é que não o matas logo?

-Sai daí.
-Tens sorte por ainda estares bem.
-Parem de falar - pedi baixinho chegando até à maçaneta da porta e caindo de joelhos ao tentar abri-la.
-Calem-se, ele nunca lidou bem com isto tão bem quanto nós - gritou Marvin e eu gemi com a dor na minha cabeça - ups, desculpa pa. - pediu. Cerrei os dentes já irritado com a ela e virei-me olhando-a e de braços abertos. - Mata - disse com os dentes cerrados.

Semicerrei os olhos quando ele me disse para o matar. Cerrei os dentes e as minhas mãos fecharam-se em punho. Fulminei-o com o olhar.
- Tu é que pediste.- rugi, erguendo as minhas mãos para ele. Abri-a e concentrei toda a minha atenção nele. Os meus poderes começaram a concentrar-se e para começar apenas o cerquei, com pequenas chamas em volta dele. Os meus olhos mudaram de cor e uma bola luminosa surgiu nas minhas mãos. Eu estava a conseguir, os meus poderes estavam de volta. Com a minha mão esquerda controlei a sua mão, fazendo-a ir até ao seu pescoço, para que fosse ele próprio a sufocar-se. Inspirei e pouco depois bocados do tecto começaram a render-se aos meus pés, como se fossem meus escravos. Eu queria que ele sofresse.

Fechei os olhos por momentos, sim eu tinha-me mesmo tornado num louco, eu estava a acreditar no que a minha cabeça pedia para eu acreditar, eu estava a ter ilusões e no fundo a matar-me a mim próprio. A minha cabeça estava uma confusão. Quando os abri fiquei a olhar para ela ainda com os braços abertos a provoca-la e comecei a ver o que ela estava a fazer. Arregalei os olhos encolhendo-me instintivamente quando um fogo vindo do nada me cercou. Olhei para ela e depois para o fogo que já me tinha derretido uma sapatilha e mais tarde foi a minha mão que começou a mexer-se sem ordem. Mordi o lábio tentando não lhe dar aquilo por vencido mas a força era mais forte que eu comecei a sufocar-me a mim próprio encostado à porta e as estúpidas das vozes não se calavam deixando-me mais debilitado.
-Oh puto... eu não me dou bem com o fogo.. desculpa.
-Estúpido - disse de uma maneira quase inaudível e tentei procurar por ar ao mesmo tempo que via o tecto a cair.

Continua Cleo, isso, mata-o. Dá cabo dele, como ele deu cabo da tua vida. Mata-o lentamente, acaba com o corpo dele durante horas, faz com que ele sinta o que é morrer em sofrimento. Faz com que ele perceba o que sofreu a tua irmã quando foi morta por ele. Pedaços de madeira continuaram a cair do tecto e a sua mão continuou a asfixiá-lo, graças aos meus poderes. De repente, sem eu estar à espera o fogo que o rodeava apagou-se, a sua mão largou o seu pescoço e a minha concentração chegou ao fim, acabando com o feitiço. Arregalei os olhos enquanto recuava dois passos. Era como se existisse uma força maior do que a minha e que me impedia de o matar. Abanei a cabeça várias vezes e sem conseguir perceber tudo aquilo o meu olhar fixou-se nele, sem que eu o conseguisse desviar.

Quando pensei que não conseguia mais continuei a respirar apesar de fazer uma dor e impressão horrível em todo o meu corpo, era como se não tivesse oxigénio e precisasse dele para respirar porque era uma coisa normal que fazia, mas mesmo sem ele eu continuava vivo e a respirar como se o tivesse. Era uma sensação tão estranha que nunca tive na minha vida e que não tencionava ter. Preferia morrer. Senti a minha mão cair e o meu corpo desfalecer por momentos, mas consegui acordar e olhar em volta vendo que já não tinha fogo a rodear-me.
Abri a boca para falar mas não saiu nada por estar tão rouco. Engoli em seco olhando a rapariga (que apesar de gostar..ou não sei se ainda gostava... não sabia o nome dela) a afastar-se de mim e fechei os olhos por segundos tentando recompor-me .

- Não.- abanei a cabeça enquanto o via. Ele estava vivo, eu não o tinha conseguido matar. Mas eu queria. Quer dizer, pelo menos uma parte de mim queria. Passei as mãos repetidamente pelo cabelo e sem ter percepção do que fazia, corri para a porta. Abri-a e saí daquele sítio o mais depressa que consegui. Eu tinha de o matar, eu precisava de o matar, mas era como se eu não o quisesse realmente matar.

Senti um baque na minha cabeça e fechei os olhos pensando que ela estava a pensar noutra coisa, mas era apenas ela a fugir. Engoli em seco até porque tinha mesmo a boca seca e vi Marvin à minha frente com os olhos muito abertos. - Isto foi feio. - disse-me ele.
-Oh não, foi fenomenal - gozei com a voz super rouca - até porque eu considerando o facto de que eu me estava a matar a mim próprio e que era a rapariga que por acaso eu gosto a fazer-me isso - assenti - é óptimo, lindo.
-A culpa é tua - deu-me a mão e eu segurei - tu é que disseste para ela te matar.
-Eu estava a brincar!
-Ela é uma bruxa! - disse no mesmo tom que eu.

Abri os olhos muito devagarinho, sentindo as minhas longas pestanas embater em algo. Ergui uma sobrancelha e quando ergui ligeiramente a face foi a vez do meu nariz também embater nalguma coisa. Levantei a cabeça e vi que estava a caminhar se ter os meus pés assentes no chão. Estranho. Virei a cara de repente e senti o meu nariz roçar no de outra pessoa, era o dele. Senti a sua respiração embater na minha cara e fechei os olhos.
- O que se passou? - murmurei com a voz meio rouca.

Senti-a acordar e fechei os olhos, ainda a andar, quando o nariz dela veio contra o meu e ela abriu os olhos.
-Se ela não fosse uma bruxa eu dizia-te: És tão atrasadinho Arroz. Beija-a, leva-a para a cama e depois faz o que disseste à bocado - Marvin riu-se. Revirei os olhos tentando ignora-lo.
-Apenas não te mexas - disse, se ela se mexesse mais um bocadinho eu...Hei, ela podia continuar a querer matar-me, mas eu continuava um homem e... continuava... quer dizer já nem sei. Hoje foi mesmo um dia crítico. - Nem fales - suspirei deitando-a finalmente na cama.

Ergui uma sobrancelha com o seu pedido mas fiz o que ele me pediu.
- Está bem.- murmurei. Cleo ele pediu para tu não falares!- ahm, ups desculpa.- mas porque é que estás a pedir desculpa? - eu vou...eu vou calar-me.- e assim o fiz. O dia de hoje era realmente daqueles dias para esquecer. Aconcheguei-me nas almofadas quando ele me deitou na cama e o meu olhar prendeu-se, como por magia, no seu.

Depois de a ver aconchegar-se fui para a cama onde já tinha estado agarrando na minha almofada velha e olhei-a vendo-a também a olhar-me. Engoli em seco desviando o olhar para a porta. - Podes ao meno dizer-te como te chamas? - perguntei.
-Não Reece, sai daqui, não podes fazer amizade com uma inimiga - ouvi Natalie. Abanei a cabeça encostando a mesma à almofada. Saiam da minha cabeça.