Bar

Ao passar por uma rua da vila reparei num bar e decidi entrar. Parecia mais para o pessoal local. Óptimo, vai passar a ser o sítio em que venho todas as semanas. comentei mentalmente, abrindo a porta e sentando-me num dos bancos. Pedi uma bebida e fui bebendo-a calmamente, observando o ambiente.

Dirigi-me com o meu carro até à cidade. Ainda não tivera muito tempo para a explorar como deve der ser, mas o bar era um sitio onde já vinha desde que aqui chegara. Infelizmente era o único por estas bandas, e apesar de não ser ao meu gosto, tinha de me contentar. Segui, sem atenção, até ao balcão - Um gin tónico, por favor - Pedi, sentando-me.

Enquanto acabava a minha bebida, ouvi uma voz que me era familiar perto de mim. Olhei para o lado e deparei-me com Lana, a pedir uma bebida com aqueles olhos de cachorrinho abandonado ao barman. Para não ser eu a dar por ela, fingi que não a vi e pedi mais um copo.

Bebi o gin tónico num trago. Esta noite, em especial, sentia-me aborrecida. Pedi outro, pagando já os dois como era hábito fazer. Estava pedrada e a caminhar para me embebedar. Não era boa mistura, com toda a certeza, mas não estava minimamente interessada. Levantei-me com o copo na mão visualizando todos os que estavam por ali. Por entre as pessoas pareceu-me ver Ralph. Um sorriso torto sorriu nos meus lábios assim que me encaminhei até ele, coisa que não teria feito se não estivesse já fora de mim - Oh, vejam só quem está aqui, se não é o meu novo amigo - Soltei uma pequena gargalhada enquanto me sentava a seu lado.

E não é que a gaja acabou mesmo por reparar em mim? Fiz um sorriso forçado, observando bem o estado nada sóbrio em que ela já estava, e levantei a bebida em sinal de cumprimento - Boas - disse.

O pouco de sóbrio que ainda sobrava em mim obrigou-me a acalmar. Sendo assim sentei-me numa melhor posição e pousei o copo. Não ia beber mais, ou pelo menos tentar - Não me digas que já tiveste de arranjar um refúgio daquele hotel piroso? - Gozei.

Revirei os olhos e soltei uma gargalhada forçada, já que tinha que se ter cuidado com a Lana, e provavelmente ainda mais com a Lana bêbada. - Parece que sim... estava a começar a ouvir... baruuulhos - gozei e abanei os dedos em sinal de susto.

Já estava habituada a ouvir gracinhas. Isso não o tornava menos suportável. Elaborei um sorriso sarcástico no meu rosto e fitei-o - Sorte minha e talvez esses barulhos te assustem realmente - Comentei, com uma ponta de ironia. Neste momento não ouvia nada, tal como sempre acontecia sempre que me drogava ou bebia mais do que devia. Era finalmente a minha única escapatória.

Ri-me às gargalhadas e dei o último golo da minha bebida - Sim, talvez - murmurei entre dentes enquanto fazia sinal ao barman para me trazer algo fraco. Como percebi que os olhos dela ainda estavam postos em mim, à espera que eu dissesse qualquer coisa, continuei: - Não devias ter cuidado com isso? - apontei para a bebida - Quer dizer, não queres pôr os teus "poderes" em perigo!

Começava a sentir-me já um pouco tonta da bebida, para não dizer que não conseguia pensar racionalmente como queria. Ri-me ao olhar para o copo - Não, por acaso não. Vou contar-te um segredo... - Aproveitei para dar um último gole e inclinei-me até ao ouvido de Ralph - O álcool anula os meus poderes, e é precisamente isso que eu quero - Disse baixinho, num tom idiota para que ele não acreditasses, mais um vez. Provavelmente ele devia achar-me parva, no mínimo.

Tentei controlar-me com o que ela disse, no entanto, a única coisa que consegui foi desmanchar-me a rir à frente dela. Sem ainda sequer estar bêbado. Bebi de estalo a minha bebida e, já com falta de ar por tantas gargalhadas, consegui parar - Desc...culpa.. - gaguejei ainda a normalizar a minha respiração. Depois de tudo o que eu sofri, ainda havia mais doidos que eu neste mundo. Ainda havia esperança.

Revirei os olhos e levantei-me, deixando uma gorjeta para o empregado em cima do balcão - Não te chateio mais. Chegada de falar sobre fantasminhas, senhor eu-sou-todo-bom - Levei a mão à boca mal o acabei de proferir. Eu acabara mesmo de dizer aquilo? Credo, não podia estar bêbada perto dele... - Hum, bem, vemo-nos por aí. - e saí do café, voltado para o meu carro e segui para o hotel.

Não pude deixar de me rir quando ela se foi embora. Graças àquelas bebidas, Lana acabara de engolir o seu orgulho. Pouco depois de ela se ir embora, vesti o casaco, deixei uns dólares de gorjeta ao empregado em cima do balcão, e voltei para o hotel.